segunda-feira, 22 de junho de 2009

Estudioso mostra como patrimônio cultural pode ser valorizado com o uso das tecnologias

Entrevista: Arturo Colorado Castellary Publicada em O Globo Digital Por: Nelson Vasconcelos - 22/06/2009 RIO - Está mais do que na hora de as tecnologias digitais ajudarem a derrubar as paredes dos museus e de outros sisudos guardiões da arte e da cultura. O acesso ao conhecimento, afinal, tem que ser geral e irrestrito. E a internet é um instrumento fundamental para difundir e contextualizar o acervo cultural escondido por aí. Sabe disso, por exemplo, o Arturo Colorado Castellary, professor da Faculdade de Ciências da Informação na Universidad Complutense de Madri. Entre várias áreas de interesse, Arturo acompanha atentamente a influência das tecnologias sobre a arte e a difusão cultural. Assunto vastíssimo. Circulando pelo Brasil há mais de um mês, sempre muito bem acompanhado, o gente boa Arturo será o principal convidado de um seminário sobre patrimônio cultural na era da cultura digital, a ser realizado na próxima segunda-feira, dia 29. Não perca. Será no Oi Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco 290, Leblon), a partir das 19h. Inscrições e informações: http://www.espm.br/ ou (21) 2216-2002. A DIGITAL estará lá, fazendo as honras. Para muita gente, museus parecem mausoléus, com ambientes quase assustadores. Como a tecnologia pode mudar esse jeitão pouco convidativo? Os museus são grandes mausoléus da cultura, onde se expõem as obras como objeto de adoração, descontextualizadas de sua origem. E o espectador já vai ao museu com um atitude prévia de obrigatoriamente adorar as obras de arte, mas nem as entende de fato. Só que a obra de arte é comunicação e, com isso, esse fenômeno da comunicação acabou morrendo em grande medida. É aí que entra a tecnologia... Sim. As TIC (tecnologias da informação e comunicação) podem romper essa contradição fornecendo acesso às obras, dando chaves de compreensão e difundindo a cultura para o grande público. Mas a maioria dos museus tem seus sites. E lembro que, na década de 90, a IBM patrocinou a digitalização de parte do acervo de muitos museus do mundo. Os museus estavam entre as instituições pioneiras na adoção das novas tecnologias, lá nos anos 90. Começaram a produzir CD-ROMs etc. Mas me pergunto por que eles se limitam, hoje, a criar uma página web que mais se parece com a "cultura Gutemberg", apenas com textos ilustrados com imagens. Ainda não aprenderam a explorar suficientemente, de maneira intensiva, a linguagem hipermídia. Os museus de ciências, por exemplo, até que estão aplicando bem essa experiência, mas os de arte são bastante refratários. E o que os museus poderiam fazer de diferente? Creio que o grande desafio é a incorporação da linguagem digital dentro do museu. Por que não ter quiosques multimídias ao lado de grandes obras em museus como o Prado, de Madri? Eles ajudam a contextualizar obras complexas. As apostas dos museus ainda são muito tímidas no que diz respeito à incorporação da cultura digital. Essa facilidade ao acesso também não diminuiria as visitas aos museus e bibliotecas? O grande desafio da cultura contemporânea é possibilitar acesso livre a todos os bens culturais, arquivos, museus e bibliotecas. Todo seu conteúdo tem que estar digitalizado e disponível na internet. Mas a verdade é que as pessoas estão indo mais aos museus, que estão vivendo uma explosão extraordinária. É o turismo cultural, que invade os espaços históricos de maneira maciça, numa espécie de paixão desenfreada. Tem muito a ver com consumo. O homem de hoje tem um apetite ilimitado por consumo, e o passado histórico faz parte disso. Fazemos turismo cultural, e é uma forma de consumo porque nos disseram que temos que ver as obras primas mitificadas. Vá ao Louvre e você verá a Mona Lisa cercada por milhares de turistas... ... japoneses... Principalmente. Mas o certo é que a internet potencializa a visita ao museu. E permite chances de compreensão prévia, facilita o acesso. Mas voltemos às TIC. Qual o papel da tecnologia? A tecnologia, por si só, não é suficiente. Estamos de acordo que as TIC são fundamentais, mas o conteúdo tem importância paralela. A tecnologia, por mais avançada que seja, (não funciona) se não estiver acompanhada de um conteúdo adequado à interatividade que ela permite. É na união entre conteúdo e tecnologia, sabendo-se explorar as possibilidades de hipermídia, que se encontra o resultado. Por isso, o autor tem que saber explorar a linguagem hipermídia, para que o resultado seja criativo e inovador. Estamos longe disso? Temo que sim. É suficiente que entremos na web para comprovar que a maior parte dos sites é de textos ilustrados com imagens, e só isso. Pouca gente está privilegiando a interação, o movimento, a navegação. É aí que está a chave da linguagem, o 3D, a navegação interativa... Naturalmente, a banda larga é a condição prévia para tudo isso de que estamos falando. Somente assim poderemos mudar radicalmente a forma de obter conhecimento. Essa é a chave. Fonte: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/06/22/estudioso-mostra-como-patrimonio-cultural-pode-ser-valorizado-com-uso-das-tecnologias-756446734.asp Por Márcia França

Nenhum comentário: